terça-feira, novembro 29, 2005

Devia ser proíbido!

No outro dia, depois de algum tempo a decidir que filme ver, acabei por escolher um DVD que, na capa tinha qualquer coisa como "Clássicos de Sempre" ou "Clássicos do Cinema", qualquer coisa desse género. O filme tratava-se de "A Farewell to Arms" ou "Adeus às Armas", de 1932, com Helen Hayes e Gary Cooper nos principais papéis e adaptado do romance de Ernest Hemingway.
Depois de ter visto o filme, acabei por não perceber de que género de clássico se tratava, porque se se tratava do clássico livro, eu compreendo, na medida em que é uma referência na obra deste Prémio Nobel, e um grande exemplo na sua "mastery of the art of narrative, most recently demonstrated in The Old Man and the Sea, and for the influence that he has exerted on contemporary style"; agora se se trata do clássico filme, não sei bem o que é que ele tem de clássico, o filme não tem literalmente nada de especial e parece-me que só com muita boa vontade chegou aos dias de hoje... E uma das razões em que não tem nada de especial é pelo facto de a história (ou estória, se o benévolo leitor(1) se encontra no pólo sul) não ter também ela nada de impressionante, e de o livro (esse sim!) ser um clássico derivado apenas da maneira como é escrito pelo autor, da maneira de como este consegue dar uma força enorme à sua personagem principal, o Tenente Frederic Henry apenas com o recurso a diálogos simples e narrações curtas...
E é precisamente aí em que o filme peca... A narrativa feita de uma maneira soberba de tão simples, torna-se demasiadamente simples e banal quando transposta para o ecrã...
E por isso devia ser proíbido, devia ser proíbido fazer filmes de certos romances, romances que nunca puderão ser projectados numa tela porque só fazem sentido no papel...
Depois fazem-se filmes como "A Jangada de Pedra"!!! Como é que alguém tem coragem de fazer um filme de um livro de Saramago! Obviamante sai aquilo! Porque não há guião para filmes em que a base da história seja as de Saramago, que são apenas como que um ponto de partida para toda uma experiência humana descrita de uma maneira única e intransponível para o screen... Não que não haja excessões, (até porque conseguia imaginar o "Ensaio Sobre a Cegueira" passado para filme, mas só pela mão de João César Monteiro!) mas são poucas, e tão mais raras quanto melhor seja o romance que lhe sirva de base...
E por isto, devia ser proíbido...

(1) Isto era só eu a dar uma de Almeida Garret...